TECENDO HISTÓRIAS

Foto: Alile Dara Onawale

Hanayrá é curadora de moda e arte e adora livrarias. Veja sua entrevista na íntegra:

 

De olhar atento e voz suave, Hanayrá Negreiros é uma jovem curadora paulistana que vem se destacando “investigando histórias do vestir”, como gosta de falar, trama herdada e cultivada dentro de casa, onde o imaginário da máquina de costura da avó materna sempre esteve presente.

Vivendo e trabalhando em São Paulo, ao mesmo tempo em que tece pontes com diversas partes do mundo, ela tem construído sua trajetória estreitando os caminhos entre moda e arte. Abordando temas como narrativas fotográficas, acervos de museus, diáspora africana e memória, Hanayrá foi curadora de Moda do Masp entre 2021 e 2022, projeto que resultou em uma exposição incrível que ficou em cartaz de março a junho deste ano no edifício projetado por Lina Bo Bardi. 

Ela também foi curadora-interlocutora representando o Brasil e a América Latina da última edição da State of Fashion Biennale, mostra internacional que percorreu alguns países pensando a moda em diálogo com diversos temas contemporâneos importantes. “Acho que nós entendemos que a moda também é política, então estamos pensando mais em questões sociais, de gênero, raça”, reflete ela.  

De Londres, onde participa de uma residência artística para jovens curadoras da PIPA Foundation em parceria com o Chelsea College of Arts, Hanayrá falou sobre suas inspirações e deu dicas de experiências em São Paulo para quem - como ela - ama a arte do vestir, com sugestões de museus, exposições, lugares para comer, comprar livros, dançar e conhecer gente.

 

O restaurante A Baianeira, que fica localizado no MASP.

Hana, o que despertou seu interesse pela moda e o que mantém seus olhos brilhando?

O que despertou meu interesse pela moda foi a minha história de família, a relação que a minha família tem com o vestir. Minha avó materna era costureira e eu cresci na casa em que ela criou os quatro filhos, e lá tinha alguns objetos dela, entre eles a máquina de costura. Então acho que todo esse imaginário que envolve minha avó é muito forte. E desde que eu me entendo por gente eu gosto de moda, foi a única opção que eu prestei pra faculdade, eu já sabia que eu queria trabalhar com isso. 

O que mantém meus olhos brilhando é a pesquisa. Pensar essa relação de arte e moda, essas intersecções, investigar esses passados, linkando com o que a gente vive agora no presente. 

Como São Paulo te inspira enquanto pesquisadora e curadora?

Acho que São Paulo me inspira em tudo, porque eu nasci no centro da cidade, na avenida Paulista, e fui criada em Osasco, então tem esses dois lugares de pensar o centro e a periferia. Me inspira com a arquitetura, com as diferentes culturas que a gente vê, as diferentes comidas, as diferentes línguas que a gente escuta, as diferentes modas... Enfim, acho que São Paulo, como uma cidade cosmopolita, nos possibilita esse encontro de culturas e isso é o que mais me inspira.

Você acabou de voltar da Holanda, onde nasceu o Inner Circle. O que te encantou por lá?

Eu fui para duas cidades: Arnhem e Amsterdam. Em Amsterdam a arquitetura me inspirou muito, pensar uma cidade que é possível de ser vivida a pé ou por bicicleta, plana, com parques, pessoas na rua. Pensando em moda, eu me encantei pelos museus. Visitei bastante lugar de arte e o que me encantou lá principalmente nesse quesito foi um quimono que comprei no Museu do Van Gogh, com a estampa dele - então pensar essa relação da moda com a arte nesse espaço institucional.

 

Onde ir para ver moda e arte em São Paulo? 

O Masp é esse lugar muito especial que reúne muitas linguagens artísticas. É um museu de arte que tem uma coleção de moda bem expressiva, a gente acabou de ter uma exposição sobre isso lá, da qual eu fiz parte, mas ele inspira também pela arquitetura, pela história e pelas obras expostas.

Eu também indico o Museu Afro-Brasil Emanoel Araújo que fica no Parque Ibirapuera e é um museu muito especial pra mim. Tem um acervo fundamental pra gente pensar a história de pessoas negras no Brasil, e também tem uma coleção de moda contemporânea e histórica muito bonita. 

Tem ainda uma exposição que está em cartaz no Sesc Vila Mariana , "Lélia em Nós: Festas Populares e Amefricanidade", com curadoria de Raquel Barreto e Glaucea Britto, que é uma mostra que parte da ideia de amefricanidade e da pesquisa de festas populares da Lélia González, convidando artistas contemporâneos, artistas que já têm uma história, para repensar essa obra. E pra quem gosta de moda eu acho que é uma exposição bem bonita, inclusive pensando em expografia. 

Por fim, indico a exposição "Um Defeito de Cor", em cartaz no Sesc Pinheiros, baseada no livro homônimo da Ana Maria Gonçalves e que já passou pelo MAR, no Rio, e pelo Muncab, em Salvador. 


Que outros lugares você recomenda, além de museus e expos, inclusive para se conectar com gente legal?

Eu gosto bastante da Livraria Megafauna que fica no térreo do Copan, e do restaurante A Baianeira que tem dentro do Masp. Indico também a livraria Gato sem Rabo que fica perto do Minhocão. Essa livraria é uma graça, eu amo. É intimista, pequenininha e boa para flertes literários, inclusive. 

Outro ótimo lugar para flertes ou para curtir um romance é o Samba do Cruz. Acho que em todos esses lugares se pode encontrar informações de moda, seja em exposições, livros ou nas pessoas.

 

“São Paulo me inspira em tudo, porque eu nasci no centro da cidade, na avenida Paulista, e fui criada em Osasco, então tem esses dois lugares de pensar o centro e a periferia.”

 

Hanayrá descreve a livraria Gato Sem Rabo, que vende apenas obras escritas por mulheres, como “boa para flertes literários”.


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