URBANA E CINEMATOGRÁFICA
Das narrativas sensíveis a dicas de São Paulo com olhar cinematográfico, uma conversa com a jovem diretora Nicole Gullane.
Acordar, tomar um café com calma em uma padaria, percorrer a cidade de bicicleta, parar em uma livraria, descobrir coisas novas, terminar a tarde vendo um filme num cinema de rua.
É assim que Nicole Gullane descreve um sábado perfeito em São Paulo. Profissional do audiovisual há quase dez anos, ela gosta de circular pela cidade observando as pessoas e as diferentes culturas. Também é fã de espaços onde possa ler, trabalhar e, claro, ver filmes.
Tendo atuado como assistente de direção e supervisora artística em projetos como as séries “Milton Nascimento e o Clube da Esquina” e “Sintonia”, é no roteiro que ela tem se reencontrado. Em “Bem-Vinda de Volta”, curta apoiado pelo Inner Circle, ela escreve e dirige a partir de um olhar sensível para uma história de amor lésbico. O filme tem circulado o país por festivais e foi premiado no Kinoforum, o Festival Internacional de Curtas de São Paulo.
Emprestando esse olhar afetivo para dar dicas de onde ir na cidade, Nicole conversou com a gente e sugeriu espaços e passeios perfeitos para flâneurs e cinéfilos, como ela.
Como você começou a trabalhar com cinema e quais projetos mais te orgulham nessa trajetória?
Eu sempre fui muito apaixonada por cinema e gostei muito de escrever histórias. Fiz faculdade na Faap, lá eu escrevi e dirigi alguns curtas-metragens. Em 2017 me formei e comecei a trabalhar como assistente de direção, e a partir disso fiz algumas séries como "Carcereiros" e "Ninguém tá Olhando", fiz longas, curtas, clipes...
Acho que o primeiro trabalho que mais me orgulha é o curta "Bem Vinda de Volta" que o Inner Circle apoiou, o que foi muito importante para viabilizar esse projeto que tem protagonismo lésbico. Nele, uma mulher vai visitar a família depois de anos e contar que vai se casar com uma mulher. O filme é protagonizado pela Mayana Neiva e pela Rosi Campos.
Também me orgulho muito da série "Sintonia", da Netflix, em que eu trabalhei com supervisão artística. Acho que ela traz outros signos que a gente não está acostumado a ver quando se fala sobre favela, periferia. E tem também a série "Milton Nascimento e o Clube da Esquina", na qual fui primeira assistente de direção. O Milton é um personagem histórico da nossa cultura e poder retratar isso, fazer parte desse projeto foi muito importante.
São Paulo te inspira para fazer e pensar cinema?
Acho que, como esses grandes centros - Nova York, Londres -, São Paulo é um lugar muito cosmopolita que junta culturas e pessoas, religiões. Cada bairro que você vai você pode viver uma cultura diferente, e a gente consegue realmente sair do nosso umbigo, de quem a gente é, então acho que isso já é inspirador, nesse lugar de pensar em novas histórias e novos universos para refletir no cinema.
Onde você gosta de ir para ter ideias?
Eu gosto muito de andar pela cidade para me inspirar, de caminhar, às vezes pegar o metrô, ficar observando as pessoas, sentar pra tomar um café, ver como as pessoas estão conversando, como estão se portando nos lugares… Acho isso muito interessante.
Quais são os locais mais incríveis para quem ama cinema: de salas de exibição a espaços culturais, passando por livrarias ou museus?
Acho que se eu pudesse dizer o que é um sábado perfeito pra mim, seria assim: eu gosto de tomar um café da manhã em algum lugar e sair pra andar de bicicleta.
Para comprar livros: Gosto de passar em livrarias, gosto da curadoria da Megafauna, da Gato sem Rabo e da Travessa, acho que são três livrarias que têm muitas coisas interessantes de inspiração, não só de cinema.
Para ver filmes: Gosto muito de ir assistir um filme na Cinesala, em Pinheiros, acho que lá tem um clima de cinema antigo de rua, ou no Reserva Cultural, outro cinema que eu gosto muito, principalmente das comidinhas que são muito boas. Então eu gosto muito de chegar um pouquinho antes do filme, comer um folhado ou uma tortinha, tomar uma taça de vinho.
Para ler: Gosto muito de ir no IMS, acho que lá também é um lugar muito agradável de ficar e tem uma visão linda da Paulista. Sentar na biblioteca e levar meu computador ou um livro e ficar estudando, lendo, escrevendo... E gosto da Biblioteca Mário de Andrade, no centro.
“Acho que, como esses grandes centros - Nova York, Londres -, São Paulo é um lugar muito cosmopolita que junta culturas e pessoas, religiões, […] então acho que isso já é inspirador, nesse lugar de pensar em novas histórias e novos universos para refletir no cinema.”
Localizada no térreo do Edifício Copan, a livraria Megafauna traz uma curadoria de livros nacionais e internacionais, mais voltada à cultura, além de abrigar um café/restaurante.